Uma vez eu estava voltando do trabalho, estava chovendo muito e eu estava escondido em uma marquise, esperando o ônibus que demorava. Do nada um garoto pequeno atravessou a rua correndo e o pior aconteceu, cena triste. A mãe estava lá, ele se soltou dela por um momento e era tarde demais. O cara do carro socorreu, mas dava pra ver que era em vão. Eu só ia confirmar isso mais tarde quando apareceu até na TV, o que já soube na hora que vi. Quando eles saíram a chuva limpou o sangue e foi até rápido. Todo mundo que viu aquilo ficou ali parado um momento, falando a respeito ou calados, com cara de espanto e depois foram embora. Quem comia na padaria, quem bebia no bar, terminou e saiu, e os comerciantes voltaram pra dentro de suas lojas. Em menos de meia hora eu tinha certeza de ser a única pessoa na rua que sabia que tudo aquilo aconteceu. Outras pessoas tinham substituído as testemunhas e o mundo pareceu ter esquecido rápido que ali aconteceu uma verdadeira tragédia. Mas eu sabia. A mãe do menino sabia bem mais, para ela nada ia passar, por muito tempo, talvez nunca. Essa história é uma metáfora para um pensamento verdadeiro. Todas as tragédias são pessoais. O mundo não toma nota delas, nem guarda lembranças. Você sim. Monumentos e construções mudam o mundo, resistem ao tempo, por um tempo. Mas até esses passam. Coisas assim mudam apenas a nós mesmos, e por ironia (ao menos um pouco) a forma como vemos o mundo. E nem tudo tem de ser tão trágico nem tão teatral pra ser tão triste. Cada pequena coisa. Cada pequena marca. Cada pequena mudança. Todas são tristemente, pequenas...
Dark_Zen · Tue Apr 05, 2016 @ 12:53pm · 0 Comments |